Romildo Bolzan analisa sua trajetória e gestão no Grêmio em entrevista

Foto: Canal do Filipe Gamba
Foto: Canal do Filipe Gamba

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Atualizado em: 20 de setembro de 2024 - 12:48

No cenário do futebol, as fronteiras entre política e gestão esportiva muitas vezes se confundem. Em uma entrevista exclusiva ao canal de Filipe Gamba, o ex-presidente do Grêmio, Romildo Bolzan, reflete sobre sua trajetória, os desafios enfrentados e seu legado no clube.

Os desafios do Humaitá e a tragédia em Porto Alegre

O bairro do Humaitá em Porto Alegre sempre foi uma bandeira de Romildo Bolzan. Desde sua campanha inicial, ele prometeu transformar o local, oferecendo melhor infraestrutura e qualidade de vida. Infelizmente, a tragédia recente expôs as falhas históricas no suporte público ao bairro, que sofre com enchentes e negligências.

Infraestrutura e desastres naturais

Durante a entrevista, Romildo destacou as falhas na infraestrutura do Humaitá, apontando a falta de planejamento urbano adequado. “Vários loteamentos e ocupações irregulares contribuíram para o desalinhamento da infraestrutura urbana”, lamentou o ex-presidente. A falta de manutenção e investimento adequado exacerbou os problemas durante as recentes enchentes.

Revitalização e projetos de infraestrutura

Romildo reiterou seu compromisso com a revitalização do Humaitá, comparando-o ao bairro La Boca, associado ao Boca Juniors. Seus projetos incluíam melhorias na infraestrutura viária e de escoamento, visando não apenas a identificação com o Grêmio, mas também a melhoria das condições de vida dos moradores.

“Faltou manutenção, realmente. Faltou um sistema adequado de escoamento; qualquer chuvinha alagava completamente a Voluntários da Pátria, aqueles bairros ali da A.J. Renner, aquelas ruas Leopoldo Betran. Ali foi, na verdade, uma coisa já prevista, sabíamos que ia acontecer e o volume que deu, deu no que deu. Faltaram ações antecipadas, ações anteriores, e também falhou, de certa forma, o sistema de manutenção funcionar diante do excesso de chuvas. Ali era um bairro que há muito tempo dava indícios de que poderia acontecer aquela tragédia.”

O Legado Esportivo e os Desafios na Gestão do Grêmio

Sob sua gestão, o Grêmio alcançou feitos memoráveis, como títulos nacionais e internacionais, além de retornar ao protagonismo no futebol sul-americano. No entanto, Romildo reconhece que o rebaixamento em 2021 foi um golpe duro para o clube. “Faltou antecipação e ações para evitar o pior”, refletiu.

Avaliação de Tiago Nunes

Bolzan expressou respeito pelo trabalho de Tiago Nunes como treinador, mas destacou a necessidade de melhorar as relações e criar um ambiente mais solidário e comprometido entre jogadores e comissão técnica. “O que ele ainda pode fazer, e acho que ele tem que fazer, é só cuidar um pouquinho mais, às vezes, das relações, criar um ambiente que traga mais solidariedade, mais vínculos, mais gestão de grupo, mais comprometimento.”

Renato Portaluppi e sua Influência

Sobre Renato Portaluppi, Bolzan admitiu que o técnico tinha uma forte influência no clube, especialmente no que diz respeito às decisões de contratações e ao ambiente no vestiário.

“O Renato de fato define as contratações, sim, ele tem uma participação importante. Embora às vezes o ônus político recaia sobre o presidente. Mas vamos combinar: não se compra jogador sem a concordância do treinador. Ele tem um comando muito forte no futebol, controla todo o vestiário e de certa forma montou um grupo que é muito fiel a ele. Minha relação com ele sempre foi de respeito e hierarquia. Adotei uma postura como presidente para tirar o melhor proveito do que ele poderia oferecer ao clube, dentro do seu estilo e jeito, sem confrontos de vaidade ou qualquer coisa do tipo. Proporcionei a ele as condições de trabalho e ele seguiu em frente. Não estava em meus planos simplesmente disputar espaço como presidente. O papel do presidente é criar ambiente para que todos no clube possam produzir o melhor para a instituição, e foi isso que busquei. Sempre interpretei minha relação com o Renato no que diz respeito à hierarquia, ao futebol e aos resultados que ele poderia alcançar.” Romildo Bolzan enfatizou que sua abordagem foi de respeito e apoio à liderança de Renato, procurando criar um ambiente propício ao sucesso.

Gestão de Douglas Costa e equívocos

Romildo Bolzan reconhece que a contratação de Douglas Costa foi um equívoco, destacando que o jogador não conseguiu corresponder às expectativas geradas. Segundo ele, a decisão de trazê-lo para o clube não se mostrou acertada devido ao prestígio do jogador e às altas expectativas que foram criadas em torno dele.

“Foi um equívoco ele ter vindo e foi um equívoco nós termos trazido, então vamos dividir as culpas. Isso acaba criando um filme na sua cabeça que não deu certo. Um jogador com o prestígio que ele tinha para vir para cá, sendo formado aqui, sempre se espera muito mais do que às vezes se pode oferecer. Então, sinceramente, eu acho que foi um equívoco ele ter vindo.” Disse, Bolzan ao canal do Gamba.

Impacto do “tchauzinho” de Douglas Costa

O ex-presidente do Grêmio também comentou sobre o famoso “tchauzinho” de Douglas Costa para a torcida durante um jogo. Ele considerou que o gesto foi mal interpretado e mostrou um distanciamento do comprometimento esperado de um jogador identificado com o clube.

Postura de responsabilidade

Romildo Bolzan enfatizou sua postura de assumir responsabilidades em momentos críticos, como no caso da queda do time, onde procurou manter a integridade do grupo e focar na recuperação para a próxima temporada.

Avaliação de Tiago Nunes

Sobre Tiago Nunes, o ex-presidente destacou a competência do treinador, mas apontou que ele poderia melhorar na gestão de grupo e no estabelecimento de um ambiente mais solidário e comprometido.

“O que ele ainda pode fazer, e acho que ele tem que fazer, é só cuidar um pouquinho mais, às vezes, das relações, criar um ambiente que traga mais solidariedade, mais vínculos, mais gestão de grupo, mais comprometimento.”

A Chegada de Felipão e críticas

Romildo Bolzan defendeu a chegada de Felipão, destacando que sua iniciativa de sistematizar o trabalho não foi interpretada como soberba, mas sim como um esforço para melhorar a performance da equipe.

Decisões técnicas e pressão

O ex-presidente admitiu que, diante dos maus resultados, a pressão por mudanças era inevitável, o que influenciou nas decisões de troca de treinadores, como no caso de Vagner Mancini.

“Foi uma pessoa que chegou aqui em um momento extremamente difícil, já no final de uma situação complicada em que precisávamos fazer tantos pontos e não conseguimos. Sentimos que não teríamos mais como fazer as coisas avançarem com ele, uma vez que os resultados não estavam aparecendo. Então, também foi um esgotamento da relação.”

Relação com Renato Portaluppi

Sobre Renato Portaluppi, Romildo Bolzan mencionou a importância da hierarquia e do respeito mútuo na relação com o treinador, destacando sua contribuição positiva para o clube, apesar de alguns momentos de discordância.

O período máximo da minha gestão foi maravilhoso. O final, ali, com alguma rusga, eu preservo apenas as coisas boas que tive com ele e as construções que realizamos.”

E sobre o discurso do Renato que “está na hora de o futebol também botar as pessoas que entendem de futebol e não as pessoas que acham que entendem de futebol’, foi um recado direto para você Romildo?”

“Eu tomei para mim, mas não interpretei aquilo como maldade. Em diversos momentos, o Renato chegou e eu mantive firme o compromisso. Aqui tem o Grêmio do CT Luiz Carvalho, e aqui tem o Grêmio da Arena. Eu assumi a responsabilidade por ambos, porque ambos precisam existir. Eu relevei aquilo porque não vou relevar o resto, com certeza. E ali, mandar fechar a boca, botar estado na boca dos caras, eu não fiquei falando à vontade. Fale como quiser, eu disse. Eu só fiquei. E aí eu cobrei publicamente, cobrei também dele quando subimos em Recife.

Sobre a manifestação: “Quem entende de futebol sabe onde precisa mexer, sabe o que precisa ser feito’, entendeu?”

Romildo Bolzan: “Não, não gostei porque naquele momento ele poderia ter dito que era para celebrar o retorno. Aquilo, para mim, achei exagerado. E disse a ele em outras situações, o assunto passou batido e eu administrei isso.”

Impacto de Geromel e Kannemann

Romildo Bolzan elogiou a dupla de zaga Geromel e Kannemann, destacando sua contribuição significativa para o sucesso do Grêmio nos últimos anos e sua importância no cenário sul-americano.

“Esta dupla aqui é indissociável. Foi a melhor dupla de zaga do futebol sul-americano, uma das melhores do futebol brasileiro e sul-americano, e mundial, eu tenho para mim. Tanto é que os dois são jogadores de seleção: Geromel foi para a Copa do Mundo, e Kannemann jogou na Seleção Argentina várias vezes. Esta dupla, sem sombra de dúvida, é uma das mais expressivas no futebol do Grêmio.”

Avaliação de Luan e Everton Cebolinha

O ex-presidente comparou Luan e Everton Cebolinha, dando créditos ao segundo por sua consistência profissional, enquanto lamentava a trajetória de queda de rendimento de Luan devido a problemas extracampo.

“O Luan lamentavelmente saiu do Grêmio e terminou praticamente. É uma pena. Aqui, eu vou ter que dar o crédito ao Cebolinha, que se tornou um profissional de maneira muito mais consistente e continua jogando até hoje. Mas creio que ainda está longe. Acho que não muitas pessoas, eu pergunto, que conviveram com Luan, o que aconteceu com ele? Nós acompanhamos aquele Luan surgindo, se afirmando, rei da América, e olhar para o Luan hoje em 2024 é quase inacreditável que aquele jogador tenha se transformado em um ex-atleta. O que aconteceu com ele foi o extracampo.”

Momentos Marcantes no Grêmio

Para Bolzan, o ano de 2016 representa um marco na história do Grêmio, não apenas pelos títulos conquistados, mas pela construção de um projeto sólido que culminou nos anos subsequentes.

“Eu fico com 2016, claro, porque foi o primeiro. Saímos da fila, não apenas pelo título ou pela bola, mas pela construção do projeto. O grupo em 2016 fez partidas memoráveis, como aquela contra o Cruzeiro, 2 a 0 no Mineirão, e aquela de 3 a 1 contra o Atlético, onde estava nítida a ideia do time que estava se formando, com um grupo de jogadores fantásticos. Todo o Grêmio de 2017 e 2018 é consequência do Grêmio de 2016, por isso que eu fico com o primeiro.” Ele destaca a importância do grupo e das partidas memoráveis na consolidação do time.

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